Hoje eu gritei com ela. Não disse algo muito rude, mas é que minha cabeça já doía, e ainda dói, a três dias, e eu só queria silencio. Ela não disse nada. Me deu as costas, e continuou colocando o café na garrafa, enquanto eu comia o último pedaço do bolo de limão. Eu estava de saída, mas iria me sentir mal se saísse sem me desculpar. Mas saí. E não me senti mal. Não até agora.
Faça alguma coisa da sua vida!, lá vem ela de novo. Agora, queria que perguntasse o que eu estou pensando. Eu diria. Diria tudo mesmo. Diria que quero chorar, mas não consigo. Que eu tenho muita coisa pra fazer, mas não sei por onde começar. Que eu quero desabafar, gritar, mas não tenho nada para dizer. Eu sei que ela ouviria, e me confortaria com um abraço. Adoro abraços. Mas é que hoje eu não estou dando valor a isso. Amanhã com certeza darei, mas hoje não. Apesar de reconhecer isso, não faço nada para mudar. Para esse tipo de coisa eu não dou valor. Mas eu fico profundamente chateado comigo mesma, quando estou a pessoa mais ranzinza do mundo, e ela, apesar de querer me dar um soco, muda o tom de voz e me faz rir. Isso eu valorizo. Como também valorizo aquela embalagem de bombom guardada, que ganhei de alguém que gostava. Mas um olhar, um conselho, um ombro, eu não consigo dar um valor muito grande, e esqueço.
Me desculpa?, falei baixo demais para ela ouvir. Que? ela quase gritou. Me desculpa por ter gritado. Ela finalmente olhou pra mim. Você está me pedindo desculpas?, eu ri. Sim. Ela pegou minha mão, sentou numa cadeira de balanço (aquela que todos gostam, e onde passam a maior parte do tempo quando estão aqui em casa), e me fez sentar na outra. É... realmente está acontecendo algo muito sério com você. Pode começar a falar.
Cristina
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