quarta-feira, 2 de março de 2011

694

Sai de casa mais arrumada que o normal. Talvez fosse por causa dessa esperança inútil que sinto toda vez que saio. Essa esperança de talvez te encontrar por ai, perambulando sozinho. Tudo bem que se fosse mesmo fazer isso, faria bem longe de mim, mas eu teimava em achar que você me ligaria para ir ao seu encontro. Tolice.
E então, mesmo sem sua ligação, eu fui ao seu encontro. Não era certeza que te encontraria, mas mesmo assim eu fui. Mais de uma hora de olhos fechados me concentrando, me preparando para o possível encontro. Meu coração parecia amarrado, lutando para pulsar, e eu nervosa com a certeza de que estava fazendo uma coisa idiota. Só queria saber como você estava, de longe mesmo, ver se estava com uma cara boa. Ter certeza de que ainda tinha aquele charme todo.
Cheguei, olhei, tentei respirar. Por duas vezes quase caminhei de volta, só que a tal esperança parecia realmente possível. Eu precisava te ver. Me libertar daquele número que me atormentava toda vez que ia dormir, 84. Fazia 84 dias que não via a pessoa mais intrigante que já conheci. Caminhei até achar uma mesa escondida. Não iria conseguir comer nada sem sentir o estômago no lugar, mas mesmo assim peguei um suco. Sente e esperei. Eu vi familias felizes, estressadas, estranhas e mal educadas. Grupinhos de meninas atrás de garotos desocupados. Todos curtindo o que combinaram a semana toda. E eu ali agindo por impulso, torcendo para estar errada.

CRACK

Eu derrubei o copo cheio que segurava. Você estava logo ali, a uns 30 metros e quase me viu. Estava acompanhado por um casal. Eu não pisquei, não me mexi, não respirei. Nem agradeci ao rapaz que veio limpar a sujeira. Pra todo mundo eu parecia com vergonha, mas eu estava chocada. Havia te encontrado e não demorou muito pra eu perceber que, era seu amigo que estava acompanhado por uma casal. Isso não me surpreendeu nem um pouco, o que não quer dizer que não me deixou triste. Era você. Radiante. Acho que pra aquela garota você não era grande coisa.
"Vá embora" Era só isso que eu pensava. Se você me visse iria fingir que não viu, era mais conveniente. Mas não viu, e eu sei disso porque não tirei os olhos de você. Era boa a sua energia mesmo não estando tão perto, mesmo quando seu amigo os deixou a sós. Afinal, eu já sabia não é? Logo ela saberia também. Ou talvez ela não fosse tão trouxa como eu.
Estava feliz por ter te visto e feliz também por você não ter me visto. Odiaria ver você constrangido ou se esforçando para ser educado. É impressionante, mas eu ainda achava que você me procurava, do seu modo. Achava. Você já tinha me dado tantas certezas, e eu insistia em ter nenhuma. É como no começo. Eu não tinha certeza de nada. Como quando eu escrevia.
Te ver aparentemente feliz, rindo, conversando, me fazia bem. Por outro lado me torturava. Queria te rouba dali, só isso. Mas eu estava satisfeita. Tinha absorvido mais uma lembrança sua nas poucas que tenho, a contagem tinha zerado, e você estava perfeito. Como sempre.



Cristina

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