sexta-feira, 15 de abril de 2011

Trote

Todos os faróis fecham quando estamos com pressa, e eu começo a xingar quando fingir estar tranquila não resolve. |Era um dia desses. Logo naquele dia, logo naquela hora. Eu tinha sido indiferente a tanto tempo, e justo naquele dia ele precisa de mim, o mundo inteiro decidiu colocar o carro na rua. Já ia fazer meia hora que ele tinha ligado e eu estava na metade do caminho ainda. Parecia tão desesperado, disse que algo terrível tinha acontecido e que precisava de mim lá. Obvio que não acreditei na primeira ligação, mas depois da quinta decidi ouvir. No meio de tantas palavras, eu só consegui absorver as ultimas "eu preciso de você", além de alguma coisa sobre alguém que tinha sido atropelado. Mas porque eu? No meio de tantos amigos e amigas mais próximos e leais, porque eu? "Eu não sei caralho. Dá pra ficar quieta e vir me encontrar?" E foi isso que fiz. Ir encontrá-lo. Não foi só a minha preocupação em ouvi-lo dizer aquilo, que me fez pegar as chaves do carro e quase atropelar um cachorro na saída. Foi a minha saudade. Eu nem lembrava mais que ela existia, pela convivência. Fiquei sim com raiva ao notá-la mas não pensei em voltar. Ele precisava de mim. Não me interessava mas se era verdade ou mentira, porque eu também precisava dele. Mas eu já tinha superado isso, então estava indo encontrá-lo unicamente para dar um apoio, ou seja lá o que ele precisasse. Cinco minutos e logo eu o veria. Não sei porque estava tão longe de casa, não era normal vindo dele. Quatro minutos e eu já estava ficando nauseada. A pergunta "porque eu" ainda rondava ao meu redor. Tinha me interrompido num momento sagrado, me fazendo largar tudo. Iria perder tintas e ganhar pinceis estragados, não sei onde estava com a cabeça. Três minutos e nenhum movimento estranho. Nada que sinalizasse um acidente logo a frente. Nada de barulho, ambulância. Os carros tinham sumido. Estava começando a ficar arrependida por ter acreditado. Dois minutos, agora sim queria voltar. Um minuto, satisfeita por ter atendido o celular. Ele estava completamente sozinho e magnificamente feliz. Não havia desespero.
- Satisfeito?
- Muito.
- O que você quer?
- Agora, não quero mais nada.



Cristina

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