sábado, 14 de julho de 2012

Janelas


Eu só preciso da sua janela aberta. Sua janela de madeira velha, aberta bem de frente pra mim e eu vendo quase tudo pelas cortinas. Vejo a silhueta das histórias que você conta, escondidas atras das cortinas de "nada é o que parece". Dessa vez você veio no outono, pra colher o que esta envelhecendo. Pra tentar maquiar o passado. Mas eu sei. Sei que chegou as semanas nas quais você abre a janela pra tirar o cheiro de mofo, e quando achar que é o suficiente, vai fechar de novo. Sei disso. Mas eu queria essa janela aberta para eu poder te dar um bom dia caso você aparecesse. Pra eu poder deixar um bolo quente, ou uma caneca de café. Pra você me espiar quando estivesse com tédio, e te fizesse pensar no que poderia ter sido. Pra eu poder ouvir tua voz. Mas a janela já já se fecha e você nem vai se despedir. Irei esperar uma longa temporada até toda poluição entrar pela fresta da janela e te incomodar. Porque não adianta bater na madeira velha da janela. Nem mesmo na porta nova. Você não abre para estranhos. E enquanto o cheiro não vai embora, e fico aqui admirando seus quadros e pensando porque não consigo manter a janela aberta. Ou porque você deixa as cortinas fechadas. Porque não importa o que eu faço, você sempre vai e tranca tudo. Não espere sempre um lugar pra jogar fora, o que não vai usar. Você continua afiado mas eu estou cansando. Mas canso aqui, do outro lado da rua, na janela da frente. Canso no mesmo lugar para que você possa me encontrar quando decidir voltar. Pois eu sei que volta um dia. Você sempre volta enquanto eu fico aqui esperando você ir embora.



Cristina Martins

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